sábado, 19 de janeiro de 2013

A outra noite


Quero voar
lá bem acima
das nuvens pretas 
quero estar.

Quero ser aviador
aliviar a dor
daqueles que sonham
com aquilo que só fica no imaginar.


A OUTRA NOITE*
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa, de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; que as nuvens feias que cobriam a cidade eram vistas de cima enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
      Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim:
     “O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas tem mesmo luar lá em cima?”
       Confirmei: sim, acima da nossa noite preta ,enlamaçada e torpe havia uma outra –pura,  perfeita e linda .
       “Mas, que coisa!”
        Ele chegou a por a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
     “Ora, sim senhor...”
       E, quando saltei e peguei a corrida, ele me disse um "boa noite” e um “muito obrigado ao senhor” tão sincero, tão veemente como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
*Por Rubem Braga

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